Cada filho que nasce é uma oportunidade de se refletir a respeito do significado da paternidade, pois há diferença entre o “ter filhos” e o “ser pai”. O “ter filhos” é quase um imperativo biológico, enquanto o “ser pai” é um ato voluntário que exige dedicação, disciplina e atenção.

Para o “ser pai”, na integridade de seu sentido, impõe-se uma análise do que representa o papel dos pais na formação e desenvolvimento dos filhos. O tornar-se “mulher” é um processo internalizado pela observação do comportamento da mãe e de outras mulheres, por parte da menina, enquanto o tornar-se “homem” é assimilado a partir do comportamento do pai ou de outras referências masculinas adotadas pelo menino. Se estas fontes de referência não forem bem estruturadas, haverá uma grande tendência à perpetuação dos vícios e desvios comportamentais encontráveis na história familiar ou pessoal daqueles modelos.

O aprendizado por imitação é a base da “hereditariedade” dos vícios e das virtudes familiares e isso implica na responsabilidade paterna, no sentido de se mudar os costumes indesejados para que o exemplo saudável seja o guia para sua descendência. Pouco (ou nada) adianta o mais belo discurso se o exemplo da prática lhe for antagônico, pois o sussurro de nossos atos impede que sejam ouvidos os gritos de nossas palavras.

Na ausência de “pai”, a fonte do aprendizado passa a ser o círculo de referência “adotivo”, como os amigos, professores, colegas ou pessoas que passem a imagem de “bem sucedido”. O grande risco que se corre hoje, uma vez que os preceitos de moral e ética também são introjetados pelos exemplos externos, é o da deformação do caráter pela dominância dos maus exemplos, pois há toda uma geração de pessoas formadas na vigência da “Lei de Gérson”, onde se deve levar vantagem em tudo ou pela sucessão de exemplos de distorção do conceito de moral, para justificar atos imorais e dos comportamentos antiéticos, como o parar em fila dupla ao buscar o filho no colégio, mas se irritar quando outra pessoa faz a mesma coisa em outro lugar. Ética é o bom comportamento que esperamos que os outros tenham conosco e porisso devemos utilizá-lo na relação com os demais.

A nossa sociedade vive uma crise moral e ética, onde os governantes e legisladores agem visando seus interesses pessoais, se esquecendo da nação e o risco que corremos com nossos filhos é que a banalização da corrupção, da impunidade e da imoralidade, acabe por torná-las a principal norma de “comportamento adequado”. A saída para esta crise é o hábito do diálogo construtivo com nossos jovens, para formação de um senso crítico, evitando-se as perigosas generalizações do tipo “todo político é corrupto”, ou “todo mundo rouba”, discutindo-se a banalização da violência, da impunidade mas, principalmente,se queremos construir filhos de caráter mais íntegro, é essencial que nossos exemplos, mais que nossas palavras, sejam seu esquadro, nível e prumo.

Dr. José Roberto C. Souza

 

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