04/05/2011 , 15:51

AMIGO VERDADEIRO

Creio que uma das palavras mais banalizadas em nosso meio, seja “amigo”.  Isso decorre da distorção de seu sentido mais profundo, pois para a maioria, basta ter alguma afinidade (mesmo que para coisas prejudiciais) para incluir o outro nessa categoria. Assim, será “amigo de infância” o colega de boteco recém-conhecido, ou o parceiro do jogo de tênis, em relação tão superficial quanto efêmera e pouco produtiva.

Tende-se a considerar como amigo quem nos aceita como somos, fecha os olhos aos nossos defeitos, passa a mão em nossa cabeça quando erramos, não nos critica e ainda justifica nossas falhas, nos colocando na condição de vítimas de um mundo injusto e uma sociedade incompreensiva.

A maioria das pessoas tende a ser pouco permeável às críticas, adora receber elogios ou comentários alentadores – mesmo imerecidos – e se nutre com os “afagos ao Ego”, geralmente frágil. Tal fragilidade, associada ao baixo nível de tolerância às frustrações induz a uma armadilha mental que transforma em “amigo” todo aquele que não nos contraria ou censura.

Já vi pessoas terem como “amigos”, pessoas que os enganaram e exploraram apenas porque tiveram uma convivência de muitos anos. Muitos banalizam a expressão, por um grande coração que não vê a maldade alheia, ou não percebem o verdadeiro sentido do que é ser amigo.

O amigo verdadeiro deseja e faz o bem, mesmo que o outro não o perceba assim. Em frase lapidar, o grande poeta Carlos Drummond disse: Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso e com confiança no que diz. Isso significa que o amigo fala o que o outro precisa ouvir, e não o que ele deseja ouvir.

O amigo é aquele que conhece os nossos anseios, nossos defeitos, nossos problemas e é capaz de nos dizer a mais dolorosa verdade, por mais que não gostemos dela e com quem também temos a liberdade de fazer o mesmo. Esses critérios reduzirão nossos amigos a um número ínfimo e os que sobram são aqueles por quem teremos amizade, essa sim, sujeita a gradações, onde por uns teremos mais amizade que por outros. Teremos as amizades do clube, as da igreja, as do trabalho, as da família, umas mais próximas que as outras, onde as amenidades dos pontos em comum reforçam laços sociais e onde os defeitos e dificuldades individuais são convenientemente olvidadas e minimizadas, para facilitar a convivência.

O amigo lhe dirá, com todas as letras, que você está errado em uma intenção ou ato; lhe dirá que você pecou ao fazer ou deixar de fazer uma determinada coisa e que ao vê-lo em um erro terá a sinceridade de lhe abrir os olhos para possíveis consequências e que não o poupará da crítica quando o orgulho o levar a não ouvir o bom conselho e agir de acordo apenas com sua vontade.

Ser amigo é tão difícil quanto fácil; exige apenas coragem, sinceridade, vontade e humildade para nos reconhecer como seres imperfeitos em busca de evolução.

 

Dr. José Roberto

 

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