05/05/2011 , 12:34

MAUS EXEMPLOS, BONS EXEMPLOS

Há alguns anos ouvi em um discurso de uma pessoa cujo trabalho eu muito admiro, uma frase lapidar. Ela discursava no lançamento de um projeto nacional de combate às drogas e começou falando da hipocrisia da sociedade que prega contra as drogas, tendo um cigarro em uma das mãos e um copo de uísque na outra, 2 drogas das mais perniciosas que apesar de legalizadas, não deixam de ser drogas e ela disse “não há nada pior do que um bom conselho……….seguido de um mau exemplo”.

Essa frase teve tal impacto em mim que a repito com freqüência nos cursos e treinamentos que ministro, citando a fonte: Profa. Helena Gasparini. Esse impacto foi causado pelo alcance que ela tem em todas as circunstancias da vida, sendo uma releitura do conhecido refrão “uma imagem vale por mil palavras” e considerando que o homem aprende por imitação e repetição, o exemplo que damos tem muito mais peso do que o discurso que fazemos. O sussurro de nossos exemplos impede que sejam ouvidos os gritos das nossas pregações.

Que força tem o padre que prega com um belo sermão contra os pecadores e que se descobre ser pedófilo? Que moral tem o dublê de bispo evangélico / deputado para falar em ser guia espiritual de alguém após ser flagrado desviando dinheiro na compra de ambulâncias? Qual a confiança que podemos depositar na imparcialidade do Juiz, sobre o qual recaem denúncias de corrupção, por mais bonitos que sejam seus despachos?

Essas indagações dizem respeito a eventos presentes na mídia, mas a questão dos exemplos alcança mais longe: grande parte dos homens que espancam suas esposas tinham pais que faziam o mesmo e a lógica é assustadora “se meu pai batia em minha mãe, esta é a forma correta de se tratar a mulher”. A obesidade infantil  explodindo no mundo moderno nada mais é do que o reflexo do exemplo dos hábitos alimentares de seus pais e amigos e é muito difícil conseguir uma mudança consistente para a perda de peso, se não houver modificação exemplar dos hábitos familiares.

A identidade sexual é um aprendizado. A menina aprende a ser “mulher” na observação da mãe e de outras referencias femininas e ela tenderá a imitá-las naquilo que lhe parece mais agradável ou adequado. Mães pouco afetivas criarão filhas pouco afetivas, mães gritonas tenderão a gerar filhas gritonas, num circulo vicioso que permeia as gerações. O menino aprende a ser “homem” com o pai e outras figuras masculinas que escolhe como referência. Se seu pai foi ofensivo e rude ele tenderá a imitar esse comportamento quando adulto, se o pai foi ausente ele terá mais dificuldade em estabelecer relacionamentos profundos e estáveis e assim se forma o caldo de cultura onde crescem as insatisfações humanas. As conseqüências são a perpetuação e aprofundamento dos erros do passado, cujo exemplo mais gritante é a corrupção reinante em altas esferas do poder público e que nos leva a suspeitar que o Presidente da República foi otimista quando disse haver “300 picaretas no Congresso”.

A observação do exemplo, inconsciente na criança, passa a ser uma obrigação consciente para o adulto. Para mudarmos o mundo temos que mudar a nós mesmos e devemos fazê-lo ao observar exemplos negativos, aprender o que não fazer, ficarmos alertas para não repetir os maus hábitos e costumes familiares ou de nosso grupo social e também aprendermos a observar os exemplos positivos, para repeti-los e melhorá-los.

Lamentavelmente, as referências positivas de exemplo estão sendo escondidas pela imensidão dos negativos, resultado de anos de inconsciência e inconseqüência, frutos de uma visão egoísta e egocêntrica calcadas na famosa “Lei de Gérson”, de querer levar vantagem em tudo sem se preocupar com o que acontecerá á nós mesmos e ao nosso mundo, como resultado de nossas atitudes e ao escolher dirigentes, temos oportunidades de mudança: devemos buscar conhecer a vida dos candidatos, mais que seus discursos ou propostas. Saber como tratam seus negócios pessoais, como é sua convivência familiar, com que respeito e consideração tratam os auxiliares imediatos,etc. Isso nos fala dos valores humanos, que são mais importantes do que sua capacidade técnica ou gerencial.

Dr. José Roberto C. Souza

Médico Homeopata

 

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