05/05/2011 , 13:12

AUTORIDADE OU OTORIDADE?

Há poucos dias o Presidente Lula teve uma reação interessante. Um projeto de lei em votação propõe a proibição do fumo em lugares fechados e quando lhe perguntaram sua opinião, ele soltou uma pérola: ”Eu defendo, na verdade, o uso do fumo em qualquer lugar.” Mais adiante, não esgotado o repertório de asneiras,  comentou a respeito da possível proibição do fumo no Palácio do Planalto: ”Menos na minha sala. Eu, se for na sua sala, certamente não fumarei porque respeito o dono da sala. Mas, na minha, sou eu que mando.” Seria cômico, se não fosse trágico, pois tal atitude mostra o despreparo e a arrogância do supremo mandatário da nação, que se esquece que a tal sala não é “dele”, mas sim de todo o povo, cujos impostos pagam sua manutenção, incluindo as  “mordomias” de praxe, como os caros vinhos que acompanham suas cigarrilhas.

Ao invés de dar exemplo de obediência às leis, o próprio Presidente se insurge contra elas e assim perde a força moral para exigir que os demais cidadãos as cumpram. Ao invés de dar exemplo de humildade e respeito ao próximo, se escuda na autoridade da força e perde a força de autoridade, que se conquista através de exemplos e não de discursos vazios e demagógicos.

No momento em que o SUS gasta 338,6 milhões de reais por ano com doenças diretamente decorrentes do fumo, tal atitude é um desserviço ao país, vindo exatamente daquele que deveria ser o maior defensor do direito e exemplo de correção em suas atitudes e palavras.

O Presidente pensa que ele “é” uma autoridade, mas não sabe que ele apenas “está” no lugar da autoridade, pois em breve será outro que ocupará esse lugar e assim a tal sala não será mais “dele” (aliás nunca o foi e nunca será), ele apenas é um ocupante transitório da mesma, devendo zelar por sua higiene e integridade para entregá-la a seu sucessor.

Quando Júlio César voltava vitorioso de sua batalhas e desfilava em triunfo pelas ruas de Roma, em sua biga ia um escravo encarregado de cuidar de sua coroa de louros e repetir em seu ouvido: “sic transit gloria mundi” que significa “a glória do mundo é transitória” e também lhe dizia “César, lembra-te que és mortal”

para atenuar os riscos do orgulho e da prepotência, pecados a que todos estão sujeitos, principalmente aqueles que ocupam lugares de autoridade.

O adágio da democracia “todo poder emana do povo e em seu nome será exercido” acaba sendo pisoteado por palavras e atitudes irresponsáveis de quem se acha mais importante do que o lugar que está ocupando e pela miopia dos que se deixam encantar pelos aplausos dos eternos áulicos, mariposas que sempre rodeiam as luzes atrativas dos governantes do momento, sedentos pelas benesses advindas da proximidade com o centro do poder.

Que decepção ver nosso país exposto a esse tipo de comando, em que o mau exemplo vem de cima, em que as leis começam a ser desrespeitadas por aqueles que as elaboram ou sancionam e ao povo sobra apenas a indignação e a tristeza.

Dr. José Roberto C. Souza

 

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