04/05/2011 , 15:40

VÍTIMAS E MERECEDORES

Há tempos um sábio ensinava que, frente às situações desagradáveis da vida, as pessoas poderiam assumir duas posturas: de vítimas ou de merecedores e ensinava ainda que a condição de vítima é a pior opção, pois a vítima não evolui, não cresce com o possível aprendizado proporcionado pelo sofrimento.

Para muita gente, quando acontece algo desagradável, quando alguém faz uma crítica ou censura, quando perdem uma eleição, quando levam uma bronca de um superior, quando o cônjuge pede separação, quando falham em um projeto, quando tiram nota baixa ou em qualquer revés, a tendência é colocar a culpa nas circunstâncias, se vitimizar, se achar com a razão plena e absoluta, sem olhar para si e se fazer a pergunta de um milhão de dólares; “o que eu fiz, qual o cabimento que eu dei, para que isso esteja me acontecendo?”.

Quando a pessoa aprende a olhar primeiro para si mesmo, avaliar as suas atitudes geradoras daquele fato desagradável, ele tem a chance de aprender para não repeti-lo, a não deixar que aquilo aconteça de novo. Mao Tse Tung dizia que “quem não conhece a sua história está condenado a repetir os erros do passado” e embora o tenha dito em relação aos povos, é muito mais adequado em relação aos indivíduos. Se nós não paramos para avaliar os nossos atos e suas conseqüências, estaremos repetindo os mesmos erros e pagando o alto preço da nossa inconsciência. É fundamental lembrar que, ao apontarmos o dedo acusador para outra pessoa estaremos apontando 3 dedos para nós mesmos, numa sábia lição da nossa anatomia.

Relacionamentos fracassam mais se um dos parceiros acha que o problema está apenas no outro, alunos tiram notas ruins e se acham que a causa foi a prova difícil, irão fechar os olhos para a necessidade de estudar mais, aquele que foi caluniado e não busca encontrar  qual o motivo que deu para a calunia, deixa aberta a porta para que ela aconteça mais vezes e assim por diante.

A característica que distingue os humanos dos demais animais é a sua consciência, que lhe dá uma noção histórica e o homem é o único animal que tem a sua história, coletiva e individual. Podemos aprender a partir da nossa própria história, dos nossos erros e acertos e também dos erros e acertos das pessoas com quem convivemos e deixar de fazê-lo é abrir mão do infinito potencial de crescimento que possuímos, é abrir mão da humanidade propriamente dita.

Uma das maiores virtudes do homem é a humildade, saber reconhecer que somos falíveis; que erramos; que não sabemos de tudo; que o mundo não existe por nossa causa, mas apesar de nós; que pessoas mais sábias que nós nos precederam e nos seguirão; que por muito que saibamos, mais teremos a aprender e quando começamos a cultivar essa virtude encontramos mais facilidade para reconhecer nossos erros e falhas, para aprender com eles.

Colocar-se como merecedor significa  receber os reveses da vida encarando-os como conseqüências de nossas próprias atitudes ou omissões, é aceitar que a forma como agimos, de um modo ou de outro, contribuiu para que aquilo acontecesse da forma como aconteceu e fazer disso uma lição, um aprendizado que nos levará a nunca mais permitir que aquilo se repita e agindo assim nos tornamos pessoas melhores, nos magoamos menos com os outros e magoamos menos às pessoas do nosso convívio.

Lembremo-nos que a paz que tanto desejamos que exista no mundo, só pode existir se começar a partir de cada um de nós, da mudança da nossa atitude, contribuindo para a construção da harmonia, da concórdia e da tolerância.

Dr. José Roberto C. Souza

 

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