04/05/2011 , 15:44

PAIS & FILHOS

A vida passa e nós não vemos; foi ontem mesmo que o sonho era ter 18 anos para tirar a “carteira de motorista”. Anteontem o coração vinha à boca ao dar de cara com aquela menina de cabelos compridos, que povoava nossos sonhos de menino e que sempre escolhia um garoto mais velho, pra nossa tristeza e um resquício de inveja. Poucos dias antes estávamos subindo em árvores, empinando pipas, jogando bolinha de gude. Num piscar de olhos crescemos, assumimos nossa própria vida e nos tornamos pais e toda nossa perspectiva e valores mudam.

A paternidade nos leva a compreender nossos pais, a ver com olhos mais complacentes todas as recusas e limites que nos impunham e principalmente a aprender o verdadeiro sentido do altruísmo do amor. O melhor pedaço da fruta, o agasalho mais quente, o lugar mais confortável é alegremente cedido àquele filhote de gente que chega e toma conta de nossos dias e nos paga com um sorriso, um abraço afetuoso, um cartãozinho feito à mão, no dia dos pais e nos deixa bobos com qualquer gracinha que só faz sentido para quem é pai.

De repente, mal notamos e os filhos cresceram. Começaram a pensar por si, a questionar e opinar com a onipotência e onisciência que só a adolescência possui, a nos ver  e ver o mundo com uma visão crítica que nós não entendemos de onde vem, pois nos esquecemos que nós éramos exatamente assim, na idade deles. Como filhotes de passarinhos, começam a bater asas, exercitando vôos próprios e explorando o mundo com a curiosidade inerente ao seu momento de vida e a buscar um horizonte próprio.

Ao chegar esse momento a grande pergunta que me faço e para a qual ainda não tenho a resposta, é : que tipo de pai eu fui e sou ? Sei apenas o que procurei ser. Procurei ser um pai amoroso, contei estórias na hora de eles dormirem, dei banho, os levei e busquei na escola durante quase toda nossa vida juntos, participei das reuniões pedagógicas nas escolas, busquei orientá-los nos hábitos alimentares e de higiene, ao acordá-los pela manhã eu o fazia com brincadeiras suaves para que despertassem bem dispostos e alegres, os ensinava como subir nas árvores mais difíceis com segurança, os incentivei a superarem os seus medos e inseguranças,  busquei censurá-los por seus erros e elogiá-los por seus acertos, ri de suas graças e me emocionei às lágrimas em seus sucessos e vitórias, sofri e senti no coração o aperto angustiado da preocupação quando em alguns (poucos) momentos se deixaram seduzir por valores mundanos que não são os meus valores, mas procurei respeitá-los a cada um em sua individualidade.

Acredito que só descobrirei se fui um bom pai, quando me vierem os netos e puder observar que tipo de valores e padrões de comportamento os meus filhos irão lhes incutir, através dos seus exemplos. Tenho no coração a confiança de que eles serão pais melhores do que eu fui para eles, que meus netos serão ainda melhores do que eles serão e que, dessa forma, a construção de um mundo melhor se fortalecerá a cada geração que me suceder pois, acima de tudo, procurei passar a meus filhos um pouco da consciência de que todos somos responsáveis pelo que nos acontece e pelo que acontece ao mundo, ensinei que sempre colhemos aquilo que plantamos, se não de uma forma linear e direta, pelo menos de uma maneira análoga: se causamos dor aos nossos semelhantes, um dia a natureza nos fará pagar com algum sofrimento igual ou com alguma doença causadora de dor, como uma artrose; ensinei que as flores de paz, amizade, respeito e concórdia que semearmos ao longo da vida, nós as iremos colher na forma de serenidade, amor, respeito e consideração, desde que nossa vida seja pautada pelo isoformismo, que é a coerência entre o que pensamos, o que falamos e como agimos.

A nobre indagação de se fui mesmo um bom pai, passa agora a aguardar a resposta do mais rigoroso dos juízes, o tempo.

Dr. José Roberto C. Souza

 

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