04/05/2011 , 15:55

DEFICIENTE CÍVICO

Ouvi essa genial expressão, do jornalista Alexandre Garcia. Num contraponto com os deficientes físicos que lutam para se superar e se incluírem na sociedade de maneira produtiva, os deficientes cívicos (DCs) se impõem à sociedade de maneira egoísta e autocentrada, pouco se importando se suas atitudes são éticas e educadas.

O DC é problemático na vida em condomínio: é aquela mulher que anda de salto alto tarde da noite, sem se preocupar com o descanso do vizinho de baixo ou os jovens que fazem sua barulhenta festa, com o bom senso entorpecido pelo álcool e pouco ligam se estão perturbando alguém. A dificuldade em seguir regras é a regra, uma vez que a conveniência ou desejo pessoal é o imperativo e assim, não há necessidade de educar os filhos ensinando-os a respeitar o silencio das áreas coletivas ou zelarem pelos bens comuns. O (a) DC não verá problema algum em destratar a faxineira ou zelador do prédio, em deixar o Poodle solto no elevador ou áreas comuns ou ainda em deixar seu carro em vaga alheia ou em posição que atrapalhe seu vizinho.

Basta andar pelas ruas para nos encontrarmos com inúmeros DCs. Vamos encontrar a mãe DC parada em fila dupla na frente da escola de seu pimpolho, lixando-se para o incômodo que gera no trânsito; outro DC estaciona seu “poçante carro” (ao sair, deixa uma poça de óleo) na frente do bar ou pátio do posto e faz questão de ligar o som, mais caro que o veículo, na máxima potência perturbando a todos que estão por perto, além de danificar a audição, sua e alheia, numa atitude de nem-te-ligo que é afrontosa.

O exercício da DC começa cedo na vida. O futuro adulto DC começa seu treino ainda pequeno, enfiando a mão no bolo da festa ou pegando o doce, antes da liberação e sem a correção; na seqüência do aprendizado irá aprimorar-se abrindo as bolachas ou iogurte dentro do mercado, apesar dos avisos para não fazê-lo e a birra é a encenação que enriquece o enredo. Atitudes desafiantes frente às repreensões são o “exercício com pesos” para o fortalecimento da DC, habilitando-o a afrontar seu professor assim que chegar ao segundo grau.

A carteira de habilitação abre novas perspectivas para a sua prática da DC, quando alinha o “carro que papai me deu” ao de seu amigo e seguem os dois na mínima velocidade possível pelo meio da rua, batendo papo através da janela sem ligar para o acúmulo de veículos atrás de si ou arremessando papel e latas de bebidas pela rua, como se o mundo fosse uma imensa lata de lixo a seu dispor.Vagas para deficientes ou idosos são “espaços especiais que os trouxas deixam para mim” Respeitar filas e as pessoas que nela estão são um atestado de burrice, na interpretação do DC, pois sempre é possível “dar um jeitinho” para se colocar à frente dos outros.

A DC é o contrário da legítima cidadania, onde cada um respeita o espaço alheio e tem a consciência de que seu direito vai apenas até a fronteira do direito do seu próximo, o que resulta em um comportamento ético dentro da sociedade.

Dr. José Roberto

 

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