05/05/2011 , 12:28

DE PECADOS, VIRTUDES E DONS…

Rui Barbosa escreveu: “De tanto ver triunfarem as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a rir-se da honra, a desanimar-se da virtude e a ter vergonha de ser honesto”.A atualidade desse lamento é desanimadora e nos leva a uma reflexão sombria: existe esperança, existe uma saída? A busca de respostas para essa indagação nos remete ao pensamento filosófico-cristão e aos conceitos do título acima…

Lembrando, os chamados “sete pecados capitais” são: Ira, Gula, Avareza, Preguiça, Inveja (ou cobiça), Luxúria e Soberba (ou orgulho). Interessante observar que os grandes males e injustiças permanentes da história humana têm, na sua base, a presença de um ou mais desses “vícios” ou transgressões, que minam a concepção da interdependência das pessoas na construção do tecido social, por possuírem em sua essência a semente do egoísmo, do interesse pessoal, em detrimento do interesse coletivo.

Opondo-se ao “pecado” temos o conceito da Virtude, que quer dizer “disposição firme e habitual para o bem”, o que significa que a virtude á algo que se exercita, que se cultiva e as sete virtudes são: Prudência, Temperança, Coragem, Fé, Esperança, Caridade e Justiça.

Complementando os dois conceitos, temos o Dom, cujo significado é “dádiva ou merecimento” e os sete dons são: Sabedoria, Entendimento, Ciência, Conselho, Piedade, Temor (ou respeito) e Fortaleza (ou coragem). Temos assim três definições que se complementam, uma vez que na busca da evolução e transformação interior cabe ao homem afastar-se do “pecado” ou da transgressão, de abrir mão dos interesses egoístas para pensar no coletivo, de modo mais altruísta e, ao fazê-lo, abrir espaço para o cultivo e exercício das virtudes, fortalecendo-se no sentido sócio-espiritual. Ao afastar-se da transgressão e crescer nas virtudes, abre-se o espaço necessário para se receber os dons, como o presente (dádiva), que deriva do merecimento.

Longe de serem princípios “beatos”, são princípios de fundamental importância no já citado fortalecimento do tecido social e dos valores sobre os quais é possível se construir uma sociedade mais justa, mais igualitária, com mais oportunidades para todos. Temos a tendência de nos excluirmos dos problemas do mundo, como se a culpa dos desmandos e injustiças fossem apenas daqueles detentores do poder, nos esquecendo que o poder que detêm foi outorgado por nós. Vemos muitas pessoas censurando aos “outros”, sem parar para observar os seus próprios “pecados”, exigindo apenas dos demais as virtudes que  deveriam ser cultivadas por todos e dessa forma, quando se espera que o mundo mude sem que cada um faça a sua própria mudança, cai-se no imobilismo e o caos que se vê no mundo é a simples projeção do caos interior de cada um (quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra…)

Por outro lado, quanta generosidade e bondade podemos encontrar nas pessoas e com quantos exemplos de honestidade, superação, amizade, respeito e fraternidade nos deparamos no nosso cotidiano. Se triunfam as nulidades, fortalecem-se os valorosos; se prospera a desonra, agiganta-se a correção; se cresce a injustiça, avoluma-se a retidão e se o poder dos maus se agiganta, a força dos bons se evidencia e assim temos exemplos de gente onde todos podem se espelhar. O movimento da paz, justiça e igualdade só é possível a partir do movimento de transformação interior de cada um; a única maneira de mudar o mundo é mudando a si mesmo.

Dr.  José Roberto

 

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