Que presente eu quero neste natal? Talvez uma camisa que se juntará às outras que já tenho no armário, quem sabe outra gravata para um uso cerimonial bissexto, ou um cinto novo pra ficar escondido pelo paletó na cerimônia acima? Dúvida cruel!!! Já sei! Um livro! Mas não pode ser qualquer livro… Não pode ser um daqueles de digestão rápida, que ao final de sua leitura a única coisa útil que sobrou foram duas palavras novas incorporadas ao meu vocabulário. Quero um livro que me faça meditar acerca do significado da minha existência, que me ajude a crescer na habilidade de compreender o meu próximo, que me traga serenidade ao coração e calma à minha mente, que seja tão relaxante que me ajude a pegar no sono ao chegar a noite, mas tão instigante que me desperte e me anime durante o dia, que me ensine a ser humilde para admitir que muito mais tenho a aprender do que a ensinar e a ter  clareza para dividir o pouco que sei. Um livro onde o concreto e o abstrato se complementem de tal forma que o conhecimento racional ajude a despertar a emoção e o sentimento, onde ciência e abordagem poética se façam presentes. Quero um livro que, ao terminar de lê-lo, eu me sinta uma pessoa melhor, mais culta, mais sensível e que tenha me tornado melhor do que eu era antes de sua leitura. Está decidido, é um livro que eu quero.

Um momento! Acabo de perceber que só falei do que o meu presente deve trazer para mim, e o Natal é uma época de se relembrar a doutrina do Divino Mestre, “ama teu próximo como a ti mesmo”, e não posso pensar só em mim, portanto recomecemos. Se não posso pensar só em mim, para não contrariar o espírito natalino e ser coerente com o ensino de Jesus, quero um presente que seja útil e duradouro e que traga conforto aos nossos corações, portanto o que eu quero é esperança.

Lembrei-me da esperança quando recordei o bem que me fez ouvir, nas últimas semanas, os dois personagens do título desta matéria. O Dr. Ayres Britto é ministro do STF, mas, acima disso, é poeta, violonista e uma pessoa cuja mansidão e doçura no falar contrasta com o alto cargo que ocupa. Falando a respeito de ética ele citou o bispo Casaldáliga que disse ser a ética “vergonha na cara e amor no coração” e conclamava os membros do Ministério Público do Brasil a tomarem consciência do fato de serem agentes políticos, que seus salários são pagos pelos cidadãos, cujos interesses eles devem defender, e que seus pareceres acima do rigor da lei, tragam o tempero do amor e da flexibilidade ditada por ele. Já Gabriel Chalita, professor de Direito e Secretário de Educação de S.P., em uma palestra sobre o mesmo tema, disse que só construiremos um Brasil melhor e mais justo quando começarmos a nos tratar com mais respeito, disse ser inadmissível um Juiz tratar com grosseria um assessor, um advogado ou uma parte em um processo, disse ser inaceitável um Promotor de Justiça tratar de modo despótico ou arrogante um estagiário ou funcionário, como se fosse mais ou melhor do que ele, pregava que um secretário de estado tem por obrigação ser cortês e educado na forma de tratar os seus subalternos e um professor tem que ser compreensivo e cordial com seus alunos, sem abrir mão da disciplina inerente à sua função.

Ouvir palavras assim, de pessoas como essas, nos renova a esperança de dias melhores. Cumpre a cada um de nós colocar na nossa prática diária o exercício desses princípios, que nada mais são do que os princípios da ética cristã, de se tratar aos outros como gostamos de ser tratados, de se fazer aos outros apenas o que gostamos que seja feito a nós e de desejar aos outros tudo o que desejamos para nós mesmos. Que nos lembremos da irritação que sentimos quando alguém fura nossa fila, para servir de freio à nossa tentação de passar à frente de outras pessoas, que não nos esqueçamos da nossa indignação frente a relatos de nepotismo e privilégios, para amenizar o impulso de nos valermos da posição ou influência para auferir qualquer tipo de vantagem ou privilégio indevido, que tenhamos sempre a consciência de que nenhuma corrente é mais forte do que seu elo mais fraco e de que a construção da corrente social se faz pelo fortalecimento de cada um dos seus elos, com o nosso próprio fortalecimento a partir das bases do respeito, tolerância, fraternidade, altruísmo, dedicação, honestidade, etc.

Então ficamos assim, neste natal o presente que eu quero e que vou dar, são pequenas caixas de esperança. Vou chamar a atendente do mercado pelo nome do crachá e agradecer pela sua gentileza em me servir, vou agradecer o motorista do táxi que me trouxe e lhe desejar sucesso em seu trabalho, vou sorrir pro caixa do banco e ser compreensivo com o seu stress, vou tratar com carinho e consideração a todas as pessoas que me são úteis de modo direto e me lembrar de cultivar a gratidão por aqueles anônimos que me servem de modo indireto, vou ter uma palavra de incentivo ao inseguro e uma de consolo ao aflito e assim vou cultivar em mim e semear no meu caminho o que eu desejo a mim e a todos nós, a esperança.

Feliz Natal.

Dr. José Roberto

Médico Homeopata

amclab@terra.com.br

 

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