05/05/2011 , 12:43

QUE VENHAM OS VÂNDALOS!!!

Nosso país precisa de mais “vandalismo”. Conta-se que Canuto, Rei do Vândalos, numa ocasião em que condenou alguns criminosos à forca, recebeu apelo de um deles para ser poupado, argumentando que era parente do rei e este mandou suspender a sentença para que fosse averiguado o parentesco e que, se este fosse comprovado, ele deveria ser morto em uma forca mais alta que as outras, para dar exemplo, pois como próximo do rei teria a obrigação de ter uma conduta mais exemplar que as demais pessoas.

Essa conduta de sermos mais rigorosos e exigentes com os mais próximos, (amigos, parentes, colegas de classe) deveria –e deve- ser a tônica para a moralização de nossas instituições, mas infelizmente vemos o oposto. Instituições Seculares como algumas igrejas minimizam punições a padres pedófilos ou incentivam pastores no “assalto” aos fiéis, mascarando-o como dízimo e enchendo seus próprios bolsos; CRM ou OAB que são entidades fiscalizadoras mostram lentidão que soa como impunidade, na aplicação de normas punitivas em função de inúmeros recursos possíveis, além do aparente desinteresse em mudar tal estado de coisas. A queixa contra agentes tributários que pressionam comerciantes, de forma aberta ou velada, retardando a liberação de alvarás ou para apressar um requerimento, ou fazendo exigências milimétricas, dispensáveis à luz do bom senso, para que uma atividade comercial seja implantada, sem que o poder público consiga (ou queira) tomar atitudes corretivas, traz uma sensação de desencanto e desilusão ao cidadão comum, que quer produzir e crescer, mas se sente violentado por um corporativismo inaceitável e injusto. A resistência dos tribunais ao “controle externo do judiciário”, ainda que justificado tecnicamente no argumento da independência e imunidade à coação, soa para nós cidadãos comuns, que temos uma percepção isenta da questão, como a solicitação de um “Visto Divino” para a infalibilidade, sendo mais uma questão dogmática do que doutrinária.

Enquanto as nossas instituições forem lenientes com aqueles que a compõem, sem atentar para a evidência de que sua maior força está na sua capacidade de autodepuração, veremos uma progressiva deterioração em sua autoridade moral, na medida em que só podemos cobrar dos outros quando somos capazes de cobrar de nós mesmos. O fortalecimento das corregedorias, com independência e autoridade exercidas plenamente na correção dos desvios é uma medida preventiva para se fortalecer a própria instituição, mas na medida em que elas agem com complacência, tolerando pequenos deslizes, abre a porta para a passagem de deslizes cada vez maiores.

Criar ouvidorias independentes (sem interferências políticas) com mandato definido e sem possibilidade de demissão, pode ser uma forma de nossas instituições se aprimorarem, desde que se disponham a ouvir o que nunca é agradável – críticas ou avaliações negativas de sua estrutura ou da atuação de seus membros, porém atitudes de auto-policiamento e regulação são fundamentais para o aperfeiçoamento de todas aquelas que queiram melhorar e se fortalecer, uma vez que a complacência com o erro ou a tolerância com desvios éticos, ainda que pequenos, leva ao esgarçamento do seu tecido de sustentação, que é a confiança da sociedade que paga sua manutenção.

Mesmo os maiores impérios ruíram quando os detentores do poder fecharam os olhos e ouvidos aos clamores do povo, quando a vertigem da pretensa autoridade os levou a acreditar serem eles próprios a autoridade. Certa feita um guia espiritual disse algo como “ autoridade não é a pessoa, mas o lugar e o lugar da autoridade foi feito para ser ocupado por pessoas de competência e responsabilidade e o que mais se vêm são pessoas sem competência e sem responsabilidade ocupando o lugar que é da autoridade”. O resgate da autoridade interior, fundamentada na retidão da moral, no altruísmo derivado do amor ao próximo e na conduta ética é a forma pela qual se pode construir a verdadeira capacidade para ocuparmos o lugar de autoridade no mundo e contribuirmos para a construção de uma sociedade mais sadia, mas enquanto cada um não mudar sua atitude interior, trazendo para sua essência os valores existenciais transcendentes, encontrando as respostas às grandes questões filosóficas da humanidade: quem sou, de onde vim, para onde vou, pouca chance teremos de mudar esse estado de coisas.

As bandeiras políticas, tão sedutoras para os arroubos juvenis revolucionários decorrem de uma imaturidade que leva à falsa crença de que é possível mudar o mundo mudando apenas aos outros ou mudando apenas a forma de governo, mas basta olhar os exemplos da história para se ver o fracasso das ideologias (todas) em decorrência da imperfeição daqueles que as lideram e dessa reflexão surge a cristalina conclusão de que a única forma de mudarmos o mundo é mudando a nós mesmos e se queremos legar um amanhã melhor para nossos descendentes faz-se necessário mudar nossa conduta pessoal e melhorar, pelo exemplo de nossa conduta, as instituições ás quais pertencemos.

 

Dr. José Roberto C. Souza

Médico Homeopata

 

Categorias

Links