04/05/2011 , 15:05

IN VINO VERITAS

No vinho está a verdade. O antigo adágio significa que sob efeito do álcool a pessoa se revela. O álcool é a única droga, sob efeito da qual o usuário faz coisas que não faria em sã consciência e isso tem uma explicação. Cada droga age de modo mais intenso em áreas específicas onde existe maior número de receptores para ela e no chamado lobo pré-frontal do cérebro está concentrada a maior parte dos receptores para o álcool e essa parte do cérebro é a sede da noção do errado e do certo, da noção do limite, da inibição,etc. Quando a pessoa bebe a primeira dose de álcool, o lobo pré-frontal começa a ser “anestesiado” e a pessoa se torna mais descontraída, mais relaxada, desinibida e mais alegre; a partir disso as doses seguintes passam a afrouxar ainda mais o senso crítico e a pessoa tende a se tornar inconveniente, a falar alto ou ficar pouco tolerante à contradições, tornando-se mais “valente” ou mais repetitivo, pegajoso às pessoas e com tendência a agir conforme o grupo. Se o grupo resolve fazer uma orgia ou algum outro movimento ilícito ou imoral, muito provavelmente aquele que nunca o faria sem o empurrão do álcool, acompanhará o grupo, para no dia seguinte ( se conseguir se lembrar) ficar envergonhado do que fez.

Lamentavelmente a pior de todas as drogas tem seu consumo aceito e até incentivado pela sociedade que, numa atitude hipócrita, demoniza as ilícitas como a maconha ou cocaína e glamuriza e ritualiza o consumo da mais destruidora de todas elas, que é a bebida alcoólica. O alcoolismo está aumentando enormemente entre crianças e adolescentes e as pesquisas indicam que quase todos começam a beber dentro de suas casas, com apoio, exemplo e incentivo dos pais e se formos atentar para a evidência de que a maioria absoluta dos acidentes de trânsito e de casos de agressões domésticas encontram no álcool o seu motor, ele deixa de ser uma questão pessoal para ser um problema social da maior gravidade.

A sociedade, ou seja, você e eu, precisamos passar a encarar o consumo de bebidas alcoólicas dentro de sua real dimensão, de uma droga mais destruidora que qualquer outra e que tem contribuído para a degradação moral das pessoas e a destruição de inúmeras famílias.

Contribuindo para agravar esse estado de coisas, a propaganda começa a divulgar o “consumo moderado”, como forma de se proteger de eventuais ações de indenização e, pior que tudo, vemos médicos recomendando o consumo de “uma taça de vinho por dia” para diminuir a possibilidade de infarto, quando existem estudos que mostram que esse mesmo hábito aumenta em 25% a incidência de câncer, pela presença do álcool. O efeito protetor contra infarto se acha nos bioflavonóides da uva e não no vinho. Quem quiser se garantir deve usar a uva ou seu suco, de preferência o orgânico lembrando que, quanto mais escuro, maior o teor dos agentes protetores. Pior e mais perigosa que a ignorância é a informação deturpada e por não termos consciência dos perigos, muitas vezes nos expomos a eles.

Dr. José Roberto

 

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