04/05/2011 , 15:16

AMOR QUÍMICO

Nosso funcionamento cerebral e por conseqüência nossas emoções são mediadas por substâncias químicas, hormônios e neurotransmissores responsáveis pela forma como expressamos nossos sentimentos. No relacionamento humano, o primeiro envolvido é a testosterona, que promove a atração macho-fêmea e o desejo sexual entre o casal.

A fase seguinte é a da paixão, que pode ser definida como “doença do amor” e envolve neurotransmissores como a Dopamina, Norepinefrina e Feniletilamina, sendo a primeira a responsável pelo orgasmo e pelo efeito da cocaína no cérebro além da anulação do senso crítico. Vai daí que o apaixonado é incapaz de ver defeitos no amado e o tempo entre os encontros é um sofrimento pela espera da “nova dose da droga afetiva” com o agravante da minimização de perigos que leva a sexo sem proteção e possíveis doenças ou gravidez indesejada. Já a Norepinefrina ativa o metabolismo, aumentando a disposição energética, força física, diminuição do apetite e do sono, enquanto a Feniletilamina aumenta a excitação e o desejo de proximidade. O período da paixão, cuja base instintiva é o interesse reprodutivo tem uma duração breve, de poucos meses a pouco mais de 1 ano e após isso pode se extinguir, finalizando a relação ou ser substituída por um sentimento mais refinado e duradouro que é o amor.

No amor predominam substâncias como a Serotonina e a Ocitocina. A Serotonina traz sensações de enlevo, paz interior, otimismo, segurança e serenidade, enquanto a Ocitocina aumenta a sensibilidade ao toque  na mulher e leva ao desejo de intimidade , sendo que as demais substâncias serão liberadas ocasionalmente, de acordo com sua necessidade.

Muitos acham que o apego é sinônimo de amor, mas a essência do amor é o altruísmo, é querer o bem do outro, ainda que isso nos doa e isso exige renuncia e desapego. A mãe que verdadeiramente ama seu filho irá incentivá-lo a sair de casa para estudar, ainda que sua ausência a faça sofrer, assim como a pessoa que ama seu cônjuge irá dividir as tarefas domésticas para que ele possa estudar para seu concurso. Os animais inferiores têm apego, mas só o ser humano é capaz de amar e renunciar como expressão deste amor.

Relacionamentos duradouros se baseiam na construção de valores, interesses, atitudes e percepções semelhantes, estabelecendo metas e objetivos em comum. Amar não é olhar um para o outro, mas sim olharem ambos na mesma direção, com respeito e aceitação das diferenças, pois o amor só floresce quando a tirania do “eu” é suplantada pela doçura do“nós” e onde o interesse de um é menos importante que o interesse dos dois. A capacidade de amar é privilégio humano e abrir mão dele, é abrir mão da humanidade.

Podemos, enquanto cientistas, entender a química do amor, mas só a sensibilidade afetiva pode entender aquilo que transcende ao biológico para chegar ao domínio do poético e perceber que somos mais que mecanismos químicos, pois somos entidades espirituais que sentem e se relacionam.

Dr. José Roberto

 

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